Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 17 de julho de 2012

112. Revide

Os faróis, como dois olhos enormes e brilhantes, varreram a rua até o final e ali se focaram por alguns instantes, iluminando o amontoado caótico que restara de uma casa. O único som que se ouvia era o atrito metálico das metralhadoras giratórias cessando o movimento. Nem mesmo meu coração disparado e minha respiração profunda pareciam fazer som algum. Era como se meus hormônios houvessem criado um filtro contra os sons mundanos da noite, focando meus sentidos no que era novo e possivelmente perigoso. Ficamos ali, imóveis, sem sequer mudar o foco do olhar, com medo que mesmo isso fosse suficiente para nos denunciar. Estávamos expostos ali, encostados na parede do prédio, poucas centenas de metros à frente do que quer que espreitasse além da esquina, mas naquele momento, aquela esquina silenciosa e imóvel, parecia o lugar mais seguro de todos. Contanto que nem mesmo um fio de cabelo fosse movido.

-Alguém precisa revidar -arrisquei falar, um longuíssimo minuto depois de o som das metralhadoras terem parado por completo.

-Não ouse! -arregalou os olhos e exclamou Lisie, por entre os dentes.

-Não eu! -respondi irritado. -Eles atiraram em alguma coisa. E essa coisa ainda não revidou.

-Atiraram na gente! -respondeu ela, incrédula.

-Duvido muito -balancei a cabeça negativamente. -Não valíamos a pena que gastassem nem um punhado daquela munição. Essa merda ainda nem começou a feder...

Comecei a recolher as coisas. Lisie ainda não tinha se decidido se acreditava na possibilidade de meu argumento ou se eu tinha ficado louco de vez, mas arrumou a mochila nas costas e pegou sua Ak-47 do chão. Olhei uma vez mais pela esquina. Os olhos continuavam olhando em nossa direção, enquanto outro par deles se aproximava de uma rua lateral e se juntava aos primeiros. Pude ver, no segundo ou dois em que foi iluminado, o que havia disparado contra nós.

-Puta merda... são exoesqueletos!

-O que? -Lisie, obviamente, não entendeu o que eu tinha dito. -São quem? Como assim exoesqueletos?

-Uma espécie de armadura, sei lá. Coisa de ficção científica!

Lisie se abaixou e também olhou pela esquina, logo abaixo de mim. Ouvi sua respiração mudar quando se preparava para dizer alguma coisa, mas não houve chance de comentários. Uma série de zumbidos quase inaudíveis, como morcegos passando rasante, encheu a noite e nos fez encolher novamente. Ao longe, o som de metal sendo atingido e faíscas voando deixou claro que o revide tinha começado.

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