Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

55. Vidro, Neve, Gás

Descemos colina o mais rápido que pudemos. Lyriel rolou os últimos metros, afundando da cabeça à cintura na neve fofa. O caminhão levou tudo em seu caminho, rochas, árvores secas e neve, muita neve. Parou apenas quando chegou ao fundo, depois de bater em uma montanha de neve acumulada. Yoseph e Thompson tiveram trabalho para desenterrar Lyriel, que apesar de ter engolido um pouco de neve, apenas perdeu o fôlego. Anne ainda terminava a descida, descabelada, com o rosto vermelho e a respiração ofegante, quando me aproximei do veículo.

-Ei, venham ver só isso! -e comecei a tirar a neve acumulada. Escondido por uma grossa camada de neve estava um outro veículo. As placas limpa-neve da frente de nosso caminhão haviam feito um enorme estrago na lateral traseira daquele carro soterrado. Ele provavelmente estava ali a muitos anos, pois, quanto mais fundo se cavava na camada de neve, mais sujeira havia. Sem que eu percebesse uma súbita curiosidade havia tomado conta de meu cérebro e transbordava pelas orelhas. Começei a cavar com afinco.

-Deixe isso pra lá, Nuke. Não deve ter nada que valha a pena aí -tentou Thompson a me fazer parar de cavar. -Já devem ter saqueado tudo.

Mas eu não dei ouvidos e continuei a retirar a neve. Quando consegui liberar a janela do passageiro corri até o caminhão e peguei uma lanterna. Aquela provavelmente era a primeira vez que o interior daquele carro via luz por muitos anos. Mas não pude ver nada, e minha decepção ao perceber que o vidro estava embaçado e sujo demais foi visível.

-Larga mão disso e vem ajudar a gente a desatolar o caminhão, vai -tentou Lyriel, já recuperada do tombo, enquanto os outros riam do meu esforço inútil com o carro. -Do contrário não sairemos daqui hoje -continuou, segurando a risada.

E novamente fingi não ouvir. Apanhei uma pá no porta-malas do veículo blindado e comecei a retirar a neve que bloqueava o resto da porta. Mas quando tentei abrir-la o trinco saiu na minha mão, e novamente todos riram. Dessa vez não aguentei, e também caí na risada.

-Porra...! Esse carro conspira contra mim! -sorri.

-Ok, Nuke. Vou resolver isso pra você, se prometer ajudar a gente depois -barganhou Thompson, com aquele tom de voz que usamos com crianças levadas. Então se aproximou do carro, pegou a pá de minha mão e bateu-a com força no vidro. Mal os estilhaços terminaram de cair um cheiro de morte se espalhou pelo ar.

-Pelos deuses! -Anne se abaixou, vomitando o almoço. Thompson e eu, também assustados, cobrimos o nariz ao mesmo tempo.

-Rápido Ly, máscaras de gás! -gritou Yoseph preocupado, puxando sua máscara sobre o nariz.

Nenhum comentário: