Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

17. Neve Vermelha

Foram dois longos meses recolhendo sujeira pelas ruas imundas da vila e empilhando ao lado dos muros. Não havia nada de heróico nisso, com certeza. Mas ao menos meus braços já estavam acostumados ao trabalho e meus músculos se fortaleciam mais e mais. Nas horas vagas eu ajudava Thompson a reparar um snowmobile que ficava num barracão ao lado de sua casa, o que foi muito bom para minha memória, que já começava a esquecer o que meu pai havia me ensinado sobre mecânica. Thompson era um homem bom, sabia reconhecer potencial nas pessoas e ajudá-las a desenvolver ainda mais suas habilidades. Ele me ajudou a ficar longe de problemas naquela fossa esquecida pelos deuses, enquanto todos ali pareciam querer me assar em uma fogueira.

Mas, na vida de um sobrevivente em um mundo como o meu, as coisas nunca dão certo por muito tempo. E, numa "bela" manhã de muito vento e neve, elas voltaram a dar errado. Um dos guardas tinha avistado uma mancha negra se aproximando pelo vale. O pânico tomou conta dos pouco mais de 30 habitantes daquela pequena cidade, e não demorou muito a me culparem pelo destino miserável que os aguardava. Aos gritos e engasgos a velha Mary soterrava-me com palavrões e maldições, mas eu duvidava que alguém fosse capaz de ser tão almadiçoado de uma única vez.

Naquele dia a mancha pareceu não se mecher muito, e isso aumentou bastante a tensão e expectativa. Os guardas estavam especialmente nervosos, já que a maioria nunca havia enfrentado mais que meia dúzia de encrenqueiros juntos. Mas as coisas pioraram muito mais quando, na manhã seguinte, pudemos ver a quantidade e o tipo de veículos que formavam a mancha. Todos de guerra. E em apenas mais um dia já estavam nas proximidades da cidade, estacionados pouco além do alcançe de qualquer arma que tivéssemos na cidade - e não eram muitas, devo acrescentar.

-Thompson, você acha que eles vão atirar?

-Vão - disse seriamente.

-Daquela distância?

-Com morteiros. Assim não correm riscos de perderem homens à toa.

-Mas e o vento? Uma tempestade está para começar.

-Talvez você não tenha reparado ainda, mas estamos em uma ilha, no leito seco de um rio. O vento corre de lá - e apontou para a direção dos veículos - e vai para o outro lado, numa corrente contínua. Em dois ou três disparos eles terão acertado a mira... e então a neve cairá vermelha.

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