Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sábado, 28 de agosto de 2010

82. Pêssegos em Calda

Passamos horas jogando conversa fora. Passan trouxe latas de frutas em calda e uma enorme garrafa de refrigerante. Pensei no quanto aquelas coisas valeriam em uma cidade como Tradeport, mas Passan não parecia saber disso, ou não se importava, e eu decidi que não me importaria também. No momento queria me preocupar apenas em aproveitar aquelas iguarias e a boa companhia dos meu novos amigos.

Logo descobri que fora Lisie quem disparou o sinalizador na noite anterior. Ela havia se demorado em uma de suas incursões pela cidade, em busca de comida ou qualquer coisa útil, e acabou cercada pelos Diabos em um prédio próximo. Então Passan, vencendo sua aversão em sair de seu esconderijo, principalmente durante a noite, saiu em resgate de sua nova pupila.

-Ela me lembra minha irmã. Não podia deixá-la à própria sorte -me confidenciou Passan, meio bêbado com o excesso de açúcar no sangue depois de uma lata inteira de doce de pêssego.

Lisie já estava morando ali havia algum tempo. Sua unidade do Rosa Radioativa fora debandada depois de um combate sangrento e Nova Bermil tinha sido uma feliz coincidência em seu caminho sem rumo. À beira da morte, de fome e frio, Passan a encontrou desmaiada em um beco da cidade. Seu instinto foi deixá-la lá, à própria sorte, como havia feito outras tantas vezes com outros que encontrou. Passan temia, com razão, que a localização de seu esconderijo pudesse ser delatada quando a pessoa se recuperasse e quisesse ir embora, e por essa razão tinha vencido o instinto de ajudar todas as vezes. Mas certo dia, ao se deparar com uma pilha magricela de pele, ossos e farrapos, não pode deixar de se apiedar e se aproximou. Reconheceu a rosa no símbolo do RR em meio aos restos de roupa que cobriam aquela criatura e decidiu deixar os riscos de lado. Quem quer que lutasse pelo RR, acreditava, não poderia ser má pessoa. Passan poderia ter pensado que alguém simplesmente tinha encontrado aquelas roupas em algum cadáver, tinha matado um dos soldados do RR e tomado sua roupa, ou que fosse um traidor deserdado, mas felizmente não pensou. E Lisie estava salva.

Agora eles se ajudavam. Passan tinha mapas e equipamentos, mas não tinha a habilidade e a agilidade necessárias para incursões pela cidade, enquanto Lisie não tinha nada além de suas habilidades e seus treinamentos militares. Juntando forças eles agora tinham recuperado suprimentos e equipamentos de todos os prédios próximos, de modo que Passan pode terminar de montar sua rede de vigilância em torno do esconderijo. Nada nem ninguém passava a menos de duas quadras de distância do subsolo daquele prédio sem que Passan soubesse. E enquanto me explicava todos os censores, câmeras e auto-falantes espalhados pelas redondezas um bipe começou a ser emitido de um dos equipamentos da sala, sendo seguido imediatamente por um monitor de computador, que piscou e ligou exibindo a imagem de uma das câmeras externas.

-A cada ano eles vem mais cedo... -falou Passan quase num sussuro, metendo outra colher de pêssegos na boca.

3 comentários:

Unknown disse...

por que diabos Passan iria trazer o Nuke para o seu esconderijo se ele era tao averso assim com os desconhecidos?

NUKE disse...

Bem observado...!
Mas veja na parte anterior, Lisie deixa sutilmente a entender que foi ela quem pediu para que Passan o deixasse entrar. E quando Nuke percebe isso, fica feliz por ela o ter reconhecido antes.
Sutil demais, talvez? Hehehehe

Unknown disse...

haha... eh... foi bem sutil...

jurei que nem era por isso, tipo a 1 frase de Passan depois que aparece a Lisie
"-Pelo visto já se conhecem mesmo, não é?"
me fez pensar que era só uma coincidencia...