Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sábado, 6 de setembro de 2008

10. Erwin, o Atirador Cego

-Vou lhe dar comida. Vou lhe dar abrigo. Vou lhe dar proteção contra a tempestade que chegará hoje. Mas amanhã, você será meus olhos. E então partirá.

Eu estava paralisado. O rosto daquele homem transpirava dor, sofrimento e solidão, parecia encarcerado num mundo de sombras eternas e escuridão sussurrada. Ele não esperou resposta. Virou-se, fechou a porta e travou-a com uma tábua, prendendo-a nos batentes apodrecidos. Tive certeza de que um chute qualquer poria abaixo aquele pedaço de plástico, e de que qualquer ventania pudesse fazer voar aquele barraco inteiro, mas guardei essa opinião para mim mesmo quando percebi que a temperatura ali dentro era bem agradável e que o cheiro que vinha de um pequeno caldeirão era delicioso. O homem caminhou pelo pequeno espaço da cabana como se quisesse me mostrar onde morava, mas não soubesse o que falar sobre tudo aquilo. Havia um sofá velho e surrado, no qual provavelmente o velho dormia, uma mesa bamba com alguns papéis amassados e uma tesoura cega, um fogão a lenha adaptado e um amontoado de caixas de papelão e restos de madeira. Numa das paredes havia um papel retangular, protegido por vidro e moldura, no qual se podia ler Erwin - Atirador Honorário do Exército Germânico, e logo abaixo uma medalha dourada, já desgastada pelo tempo, ainda brilhava imponente. E, como um culto estranho e macabro, espalhado por toda a volta do quadro, haviam centenas de figuras de pessoas recortadas de revistas e jornais, algumas tinham tido uma das pernas ou braços arrancados, mas a maioria estava sem cabeça ou com apenas parte dela ainda presa ao pescoço.

-Sim, cada uma dessas pessoas representa um inimigo morto por mim. Mas, como você deve ter percebido, parei de contar a algum tempo, quando meus olhos não mais me permitiram cortá-las das revistas - disse Erwin, o melhor atirador que a coligação Britânico-Germânica já havia tido, ao perceber meu silêncio de curiosidade e perplexidade. - Mantendo-as na parede, me permite lembrar de cada um, de como morreram e como lutaram, assim, enquanto eu viver, eles não serão esquecidos e sua honra em batalha será lembrada.

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