Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

33. Dirigir

Mark não deixou que nós o acompanhássemos até a praça, já que certamente seríamos reconhecidos. Ficamos no quarto, tentando entender alguma coisa do que havia acontecido do lado de fora, mas o local da explosão estava fora de vista. No tempo em que ficamos olhando apenas algumas pessoas apressadas passaram, correndo para verem o que havia acontecido. Os apitos dos guardas podiam ser ouvidos, e provavelmente havia alguma confusão ainda no local. Depois de duas longas horas o sherife voltou. Estava acompanhado de um de seus médicos, que estava sujo de cima a baixo com sangue e poeira.

-Acidente ou atentado. Ainda não sabemos. Uma caixa de dinamites explodiu, matando o vendedor e três outras pessoas. - Falou desanimado o sherife, que agora era mais padre que sherife. -Posso penas rezar por suas almas e punir os responsáveis. Há muitos feridos também, mas a maioria sem gravidade.

-Se pudermos fazer algo para ajudá-lo, senhor. - Falou Thompson prestativo. -Podemos tentar.

-Sim, vocês podem. -E ao dizer isso saiu pela porta, fazendo um gesto para que o seguíssemos. O médico então retirou as bandagens que prendiam a agulha em meu braço e me ajudou a levantar da cama. Minhas pernas estavam bambas e teimavam em não me obedecer, mas esforcei-me para seguir Mark até a porta dos fundos de sua enorme casa. Ele parou do lado de fora da porta e apontou algo. -É com isso que vocês vão me ajudar.

Manquei até a porta e olhei para fora. Thompson já estava lá, boquiaberto. Estacionado ao lado de uma porta de garagem aberta estava o carro mais bem conservado que eu já havia visto. Veículos de guerra, modificados ou originais, eram comuns, mesmo em bom estado. Mas carros eram difíceis de se manterem conservados, já que não serviam para guerra e portanto não mereciam cuidados maiores. Thompson disse que se lembrava do nome do carro, mas eu pedi que ele não falasse. Aquele carro não pertencia mais ao passado, e portanto seu nome não precisava ser lembrado. Eu queria em minha memória apenas aquilo que podia ser observado e admirado.

-Encontrei esse carro anos atrás, enquanto vagava por esse mundo destruído. Estava em uma estrada de terra secundária, atrás de alguns arbustos. Havia um homem morto dentro, com os miolos espalhados pelo vidro. Haviam algumas notas de dinheiro, daquelas usados na época, espalhadas pelo chão do lado do passageiro, e a porta estava aberta. -Mark olhava fixo para o carro, com o olhar vazio, enquanto se esforçava para lembrar os detalhes da ocasião. Sua voz era novamente de sherife, e seu lado padre tinha voltado a se esconder. -Encontrei uma arma alguns metros dali, uma mochila vazia e uma montanha de dinheiro levada pelo vento e espalhada na neve manchada de sangue.

-Alguém matou o motorista, fugiu com o dinheiro e morreu em seguida. -Arrisquei um palpite.

-Sim, muito provavelmente. Mas e o corpo de quem fugiu, o senhor não o encontrou? - Completou Thompson.

-Não. Procurei por algum tempo, mas não encontrei nada. Este mistério nunca desvendei. Depois de procurar tirei o homem morto do carro, limpei como pude seu sangue e continuei viajem, até que o combustível acabasse. Eu o escondi em um bosque e cobri com neve. Voltei apenas quando, depois de muitos anos, encontrei um vidro novo para ele. E o carro continuava lá, intocado em seu esconderijo de gelo. Trouxe-o para cá e o reformei.

-E o que faremos com ele, senhor?

-Irão até Amrak. Cerca de trezentos quilômetros descendo o rio. É a maior cidade existente em muitas centenas de quilômetros. Moram lá cerca de 150 mil pessoas, talvez mais. Vocês levarão uma carga para mim, e a entregarão a uma mulher.

-Certo, senhor. -Quase não prestei atenção ao que respondi. Estava imaginando qual seria o tamanho de uma cidade com tantas pessoas, e como faziam para protegê-las, alimentá-las e contentá-las.

-Sabe dirigir? - Perguntou o sherife a mim. Levei alguns instantes para entender a pergunta e lançar-lhe um olhar perdido.

-Não.

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