A esperança durou pouco. Quando as vozes, falando em uma língua desconhecida, já estavam se afastando do carro, alguém que havia ficado para trás as chamou de volta. A voz daquela pessoa me lembrava vagamente alguém, falava com clareza e em língua comum, permitindo-se entender até mesmo através da camada de neve. As vozes se reuniram ao lado do carro, mas dessa vez conversavam também em língua comum. Eram quatro ou cinco pessoas, apenas uma mulher. Falavam sobre estar no rastro de alguém e sobre as coisas que haviam juntado naquela expedição. Estranhei tudo aquilo, afinal, grupos de escravizadores não costumavam incluir mulheres, sempre levavam escravos e não recolhiam bugigangas por aí.
Mas, quem quer que fossem, logo me descobririam. E como não tinha por onde fugir, passei pelas ferragens que um dia formaram o banco traseiro do carro e me escondi no porta-malas. Ouvi quando um veículo se aproximou e parou bem próximo. Pouco depois meu esconderijo estava sendo guinchado pela estrada coberta de neve, e sem dizer uma palavra ou mover um músculo, observei por entre os buracos de ferrugem na lataria. Pude ver que o grupo era bem maior do que eu havia imaginado, e que nem de longe eram escravizadores. Em cada um dos muitos veículos daquele bando, que iam desde snowmobiles até um pequeno cargueiro terrestre, havia sempre um símbolo amarelo e preto, parecido com aquele que servia para indicar áreas e objetos radioativos, mas o lugar do círculo central era ocupado por uma rosa, enquanto os três trapézios em volta pareciam as silhuetas dos prédios de uma cidade. Era uma tropa do Rosa Radioativa, ou RR, como os rebeldes se auto denominavam.

Nenhum comentário:
Postar um comentário