Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sábado, 18 de abril de 2009

39. Tiros na Neve

Estávamos todos observando atentamente as janelas, esperando ver alguma coisa. Thompson e eu concordamos em parar o carro ao lado de um dos prédios, evitando assim as janelas sem tábuas. Foi então que Anne gritou, apontando para uma das janelas.

-Ali, tem alguém ali! -E assim que ela apontou para uma das janelas do terceiro andar, algo brilhou na escuridão, refletindo a fraca luz que penetrava pelas nuvens cinzas que cobriam permanentemente os céus.

-Acelera Nuke, vão abrir fogo! -E antes que eu pudesse raciocinar direito o que ele tinha dito, já estava acelerando e jogando o carro pela lateral do prédio. Mal evitamos a linha de visão das janelas ouvimos os disparos. Ainda tive tempo de olha pelo retrovisor e ver os buracos na neve, com pequenas núvens de vapor subindo em rodopios.

-Puta merda! -Desabafei em voz alta. -Filhos-da-puta! Atiraram em nós, sem nem saber quem somos!

Por alguns instantes ficamos estáticos. Ninguém queria sair do carro, porque alguém do lado de fora estava atirando, mas ninguém queria ficar ali, preso em uma lata de aço esperando morrer. Thompson foi o primeiro a descer. Passou pelo carro e subiu na neve acumulada na parede do prédio, aproximou-se da quina da parede e tentou olhar pela esquina. Não demorou e mais núvens de vapor subiam de novos buracos na neve, enquanto lascas do acabamento da parede voavam. Thompson estava meio assustado, provavelmente não tinha esperado encontrar briga naquele lugar, e agora tinha o dedo no gatilho de sua AK.

-Vamos dar a volta, se ficarmos aqui morreremos. -Eu já estava descendo do carro, segurando desajeitadamente a pistola que ele havia posto em meu colo. Estava com medo, admito, mas a cada estava me acostumando mais com ele, e naquele momento já não era mais do que outro tipo de adrenalina correndo em minhas veias. É certo que o medo salva vidas, afinal, nos impede de corrermos riscos absurdos, que certamente nos matariam. Mas, pra mim, o medo de algo sempre deu forças para enfrentá-lo, e provavelmente isso salvou minha vida mais vezes do que se tivesse me dado forças para apenas correr. Thompson tinha corrido pela lateral do prédio e estava na outra quina, olhando pela esquina e nos fazendo sinal para o acompanharmos. -Por aqui, tem uma entrada naquele canto, tenho certeza.

-Como ele sabe? -Perguntou-me Anne, enquanto corríamos até ele, tropeçando e atolando os pés na neve fofa.

-Não faço idéia... nenhuma.

Atravessamos um espaço de cerca de vinte passos entre dois prédios. Havia muitas janelas, mas aparentemente não havia nenhuma sem tapumes, e isso nos deu coragem suficiente para atravessar o vão entre as construções. Nos abrigamos debaixo de um telhado de alumínio parcialmente desabado, que cobria uma porta de serviço. Como eu já esperava, a porta estava trancada, e provavelmente bloqueada por dentro. Mas Thompson sequer se importou em testar se a porta capenga estaria aberta, simplesmente começou a remover a neve ao lado da porta com a ajuda do cabo da AK-47. Depois de remover a neve e um amontoado de entulhos pudemos ver o que ele procurava: uma janela de subsolo.

-Vamos entrar por aqui.

-Você já esteve aqui?

Olhei-o, inquisitivo e sem dizer palavra. E ele, com naturalidade, respondeu sem sequer piscar:

-Claro. Agora andem logo.

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