Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

12. Sussurros

Em poucos minutos não se podia mais ouvir o barulho de tiros. A noite caía veloz, e com ela o silêncio ensurdecedor que domina um mundo devastado pelo homem. Mesmo o vento noturno parecia calado, soprando para longe meus esforços de ouvir em seus sussurros alguma notícia de Erwin. Passei horas imóvel, na esperança de ver os passos mancos do velho atirador subindo pelas colinas, mas uma preocupação maior crescia em meu peito. Se Erwin estava morto, e as criaturas que o ameaçavam e sabiam de minha existência estivessem vivas, então eu poderia estar correndo perigo. Talvez eu devesse ter deixado minha toca e continuado a caminhada, mas eu estava cansado mentalmente e meu corpo ainda reclamava da noite que passei sentado numa das cadeiras semi-destruídas na cabana.

Eu havia me recolhido para dentro do buraco na neve e estava fechando sua entrada com um pedaço de plástico quando uma coisa totalmente nova me chamou a atenção. No horizonte, acima das montanhas e logo abaixo das núvens, um ponto de luz branca cruzava os céus em altíssima velocidade. Em minha infância meu pai já havia me mostrado vídeos de aviões voando em velocidades assombrosas, mísseis inteligentes e até mesmo trajes pessoais de vôo, mas o que quer que fosse aquilo era muito maior e muito mais rápido do que qualquer coisa que eu já tinha visto, ainda que eu não possuísse um binóculo para observá-lo melhor. A visão daquilo e a incapacidade de entender o que era, somado ao fato de em toda minha vida eu ter visto poucas coisas além de pequenos pássaros e pedaços de corpos voarem, me fez subir um calafrio pela espinha que eu não sentia desde que os escravizadores me pegaram pela primeira vez.

Aquele foi, apesar de eu não ter feito nada além de andar e cavar, um dos dias mais misteriosos de minha vida. Eu havia deixado para trás um dos homens mais experientes ainda vivos no mundo, escapado de uma desagradável visita de criaturas nada amistosas completamente desconhecidas pela raça humana e avistado voando pelos céus uma das coisas que aquele mundo destruído e desolado reservava a mim.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom mais uma vez.

parece que o seu personagem escreve um diário.

interessante, curioso.


sorte e luz.

Felipe de França disse...

Cara!!!

O conto foi simples mas muuiiitoo bom!

Eu gosto quando o personagem relembra do passado!

Já to fazendo uns rafis do Nuke e do Erwin!
huahuaha!!

Tá me inspirando!