Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

4. 10 segundos

Eu definitivamente não era um espião, e eles sabiam disso, então me forçaram a passar dois dias de cama, para que eu me recuperasse completamente e não adoecesse quando começasse a trabalhar para eles. E não adoeci. O trabalho de limpar os veículos e tirar a neve que insistia em entrar pelos toldos das tendas não era nem de longe tão pesado quanto o de recolher destroços para os escravizadores, e eu ainda recebia três refeições diárias, seis horas de sono e duas de descanso durante o almoço, e tinha roupas novas e quentes. Foram dias despreocupados, eu estava em um acampamento grande do RR, com pelo menos trinta guardas armados fazendo vigia e rondas constantes, e portanto me sentia seguro. Mas no fundo eu sabia que os escravizadores precisavam me encontrar e me levar de volta, para então me torturarem e me matarem na frente dos outros escravos, servindo-lhes de lição a não fugirem.

Então eles vieram. Como moscas em um montanha de merda eles chegaram às dezenas. Os batedores desceram as colinas cobertas de neve com seus snowmobiles e passaram pelo meio do acampamento, atropelando e destruindo tudo o que podiam. Dois grandes caminhões desciam lentamente pela encosta, suas metralhadoras duplas, presas com grandes armações de ferro no topo da cabine, cuspiam balas para todos os lados sem parar. E atrás dos veículos, cerca de vinte homens traziam suas metralhadoras em punho, prontos para matar tudo que se movesse. Muitas pessoas saiam das tendas assustadas, principalmente aquelas que não eram treinadas pra conflitos armados, e eram facilmente massacradas. Eu estava próximo a um dos veículos de reboque do RR quando tudo começou, tive tempo apenas de me jogar debaixo do veículo e me cobrir com neve o melhor que podia, rezando para que não tivessem me visto.

Mas, apesar de estarem cheios de confiança e animados com a matança inicial, não foi uma grande luta. O exército do Rosa Radioativa os estava esperando a muito. Pois, depois de se certificarem de que eu era procurado por eles, trataram de me deixar todos os dias bem à amostra, para que um batedor inimigo me avistasse com facilidade, e quando isso aconteceu, eles simplesmente aguardaram que viessem me buscar. E foi só morte. Por todos os lados soldados do RR deixaram seus esconderijos sob a neve e dispararam ao mesmo tempo contra o pequeno grupo de escravizadores. Eram pelo menos cinquenta homens disparando ao mesmo tempo, sem chance para qualquer reação. Em instantes havia gente pendurada nos caminhões, matando a sangue frio seus motoristas e jogando seus corpos ainda se contorcendo na neve fria. Os batedores que tentavam fugir para todas as direções, subindo as colinas além do acampamento, sequer viam quando os caçadores lhes atingiram com seus rifles e faziam suas cabeças explodirem em pedaços, manchando a neve com seu sangue escuro.


Tudo não tinha durado mais de 10 segundos. Eu estava vivo, sem um único arranhão, e só fiquei sabendo do que aconteceu mais tarde naquele dia, depois de recolher membros e órgãos da neve e empilha-los para os lobos da noite se banquetearem. Eu estava livre dos escravizadores. Ou quase.

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