Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

78. Passan

Ainda descia o terceiro degrau quando uma voz estrondosa ecoou pelo hall de entrada do prédio.

-ESPERE. ESPERE, GAROTO.

Meus músculos se retesaram, da testa ao calcanhar, e em uma fração de segundo me jogaram contra a parede. Podia sentir a adrenalina correndo em minhas veias, enquanto agarrava com força minha arma. Olhei de um lado ao outro da rua, mas nada havia além de escombros e neve. Chequei mais uma vez, apertando os olhos para enxergar mais longe, mas nada se movia.

-CALMA GAROTO, CALMA.

Lutei para que minhas pernas me obedecessem. Retornei ao interior do prédio em um só pulo, com o dedo no gatilho da arma. Também não havia ninguém ali. Mas a voz continuou:

-GAROTO, SE PROMETER ABAIXAR A ARMA, EU APAREÇO.

Mas é claro!, pensei. Claro que eu não abaixaria. Voltei para o local onde havia feito a fogueira, de lá eu podia observar a rua sem me expor. No peito, meu coração estava a ponto de explodir, mas continuava tentando bater mais e mais rápido. Olhei novamente pela rua. Nada.

-OLHA, GAROTO, VOU APARECER, MAS VÊ SE NÃO APERTA ESSE GATILHO, NÃO QUERO TE FAZER MAL.

Virei-me de costas para a parede e fiquei observando a rua com o canto do olho, pela borda da janela. Minhas mãos comprimiam o cabo da arma, meu indicador roçava o gatilho, pronto para disparar. Quase molhei as calças quando um homem rechonchudo, de barba farta e cabelos sebosos cruzou a recepção do prédio em minha direção. Um microfone com fones-de-ouvido pendia em seu pescoço. O homem caminhava devagar, com os braços abertos e olhos meio assustados.

-Q-quem é você? -gaguejei, apontando a arma em sua direção.

-EU SOU... - a voz reverberou nas paredes. O homem fez uma careta e então, num movimento lento e calculado, sem tirar os olhos de mim, apertou um botão num dos fones do aparelho. -Alô? Isso. Desculpe. Agora sim, podemos conversar. Meu nome é Passan, e o seu?

Ainda hoje não acredito em minha sorte quando relembro momentos como este. O homem podia ser um louco, assassino, canibal, em busca de sua próxima presa fácil. Mas isso sequer me passou pela cabeça naquele momento. Seu olhar não parecia esconder segundas intenções, e meu sexto sentido dizia que era de confiança. Quando me estendeu a mão, querendo me cumprimentar, estiquei-lhe a minha. Alguma coisa naquele homem me lembrava Thompson, e isso trazia algum conforto em mim que não podia ser ignorado.

Lembrei-me também de Anne, Lyriel, Yoseph e até de Von Ricky. Bons amigos, por mais curta que minha convivência com eles tenha sido. E, naquelas lembranças, não reparei quando os primeiros raios de sol que aquele mundo via em duas décadas escaparam de sua prisão de nuvens e iluminaram a entrada do prédio.

Um comentário:

Unknown disse...

aee finalmente mais um capitulo!
"homem rechonchudo, de barba farta e cabelos sebosos..."+voz estrondoza... hm... será o papai noel?