Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

8. Monstro

A visão daquela fumaça fez surgir em mim forças de onde não havia, brotar esperança em uma mente despedaçada pela solidão e o velho medo de encontrar alguém nesse mundo insano e devastado. Apesar de afoito por encontrar a fonte da fumaça, aproximei-me devagar por entre os pinheiros, evitando quebrar algum galho ou pisar em gelo quebradiço, já que até o menor barulho ecoaria por todas aquelas colinas silenciosas - e mais tarde aprendi que até mesmo o som de uma respiração pode ser diferenciado do vento por um ouvinte atendo e treinado - e me denunciaria para quem quer que fosse. Quando atingi o topo da colina segui caminho me arrastando por entre os últimos restos de árvores, até que finalmente pude ver a chaminé de uma precária cabana, feita de toras de madeira e placas de algo que parecia plástico sujo. A fumaça saía com dificuldade, e grande parte dela inundava parte da cabana e vazava pelas inúmeras frestas, como se a boca cheia de dentes de um grande monstro deixasse escapar seu bafo quente.

Não havia ninguém por perto mas ainda assim fiquei observando. E observar com paciência, sabia eu, é algo de extremo valor em um mundo como esse, e eu era bom nisso. Apenas quando o sol começou a se por é que decidi que era hora de me aproximar, afinal, a fumaça não tinha parado de sair, o que indicava que alguém estava alimentando o fogo, e se mais alguém estivesse para voltar, então já deveria ter voltado, pois todos sabem que não se deve viajar a noite. Mas eu estava errado - ao menos em parte - e quando me levantei percebi o erro. Um piscar de olhos depois o som do disparo chegou ao topo da colina e a meus ouvidos, como se a casa fosse mesmo um monstro e houvesse acordado e gritado em fúria, girei o mais rápido que pude e joguei-me no chão, afundando na neve fofa. Mas eu sabia que a neve não era alta o bastante pra me esconder e que quem quer que houvesse atirado não iria me deixar escapar facilmente. Sondei com a mão todo meu corpo, procurando o local do ferimento, mas senti um grande alívio ao perceber que a bala tinha deixado apenas um rastro de queimadura em minha mandíbula, onde a bala passou a milímetros e apenas seu calor me feriu. Eu estava inteiro, mas ainda corria perigo, e quando tinha juntado coragem o bastante para levantar e correr por entre os pinheiros ressecados, outro som estrondoso ecoou pelas árvores.

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