Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

51. Ex-Divindades

Lyriel não era a mulher mais bonita do mundo, definitivamente. Seus olhos negros, pele branca, nariz pontudo e cabelos escuros não eram uma combinação que a maioria dos homens diria como perfeita. Mas havia algo nela, uma espécie de magia ou poder oculto, que a fazia mais do que apenas mais uma mulher. Mesmo por detrás do uniforme militar era impossível olha-la, encarar seu olhar sereno e ao mesmo tempo penetrante, e simplesmente desviar o rosto. Ao admirá-la era preciso fazê-lo sem pressa e, ainda assim, era difícil não tentar um último vislumbre antes de deixar os olhos observarem o resto do mundo.

-E aquele é meu irmão, Yoseph -apontou Lyriel. E todos nos demoramos um instante para desviar o olhar e virarmos para observar o que ela apontava. Em cima da cabine do veículo que Thompson havia trazido para a lateral do prédio estava um homem, também vestindo o uniforme preto dos Deuses.

-Olá, amigos -apresentou-se o jovem, de cabelos abaixo das orelhas, morenos, sebosos e revoltos. Segurava uma espingarda automática nas mãos, na cintura usava um cinto com diversas ferramentas, e cruzados por cima dos ombros estavam outros dois cintos com munições. Um farolete de grande potência pendia de um lado, e do outro uma espingarda de cano cerrado ficava sempre à mão. -Eu dispenso as apresentações, por enquanto. Acho melhor saírmos daqui antes da festa de boas-vindas.

-Yoseph, seu imbecil, já falei pra limpar essa graxa nojenta do rosto -falou Lyriel, indo juntar-se ao irmão, que pulava de cima do veículo já entrava na cabine. -O que eles vão pensar de nós? -e balançou a cabeça negativamente, repreendendo-o.

A verdade era que eu, Anne e Thompson estávamos boquiabertos e nada pensávamos no momento. Dois soldados dos Deuses aparentemente estava deserdando e queriam nossa companhia para sair dali, ainda que isso não fizesse lá muito sentido. Afinal, eles poderiam simplesmente ter nos matado quando focamos nossas atenções em Anne e sua sequestradora e estávamos despreparados. Mas, ao invés disso, pediam para ir conosco. E, ainda sem dizermos nada, Yoseph ligou o limpa-neve e parou-o em frente a nosso carro, enquanto Lyriel já engatava o gancho do reboque ao pára-choques.

-Vamos? Cabe todo mundo aqui -convidou Yoseph, que já manobrara o veículo em direção à estrada. -Sem frescura galera, não precisam se envergonhar. Além do mais, o pessoal lá dentro não vai demorar muito mais até perceber as mentirinhas que eu lhes disse pelo rádio. Principalmente depois que nosso amigo aqui, com a metralhadora na mão -e apontou para a AK-47 na mão de Thompson -deu aquele grito meio alto com a Ly.

Thompson e eu estávamos receosos, obviamente. Mas Anne segurou-nos pelo braço, tentando nos tranquilizar, e nos puxou para dentro do veículo limpa-neve.

-Não confio neles -declarou Thompson.

-Nem eu -concordei.

-Não se preocupem. Eu confio neles. Sinto algo diferente vindo deles.

Mas mal começamos a subida que nos levaria para fora do vale onde os prédios daquele complexo fora construído, paramos.

-Antes de irmos, temos que dar um jeito naqueles outros veículos -comunicou-nos Lyriel. Então Yoseph pulou do veículo, apoiou sua espingarnada no capô e fez mira em direção aos outros veículos parados em frente à entrada do complexo.

-A carga está acima ou abaixo do tanque, Ly?

-Abaixo, claro -e pela segunda vez uma explosão ecoou pelos corredores do complexo.

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