Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

23. Espetinhos

Thompson não estava muito preocupado se encontraríamos alguém para vender todas aquelas coisas, ou mesmo se sobreviveríamos até achar alguém. Levei um bom tempo até convencê-lo a deixar a euforia de lado e se concentrar em ao menos tirar tudo aquilo dali. Foi preciso construir outro trenó improvisado, mas logo estávamos viajando.

-Sabe... eu tava pensando... Afinal, aquela velha, a Mary, tinha razão.

-Tinha? - falou Thompson, meio sem entender.

-Ela disse que eu traria a morte à cidade. Bem, a não ser que eu tenha deixado escapar algo, os piratas não foram à cidade por minha causa. Mas eu estava lá quando chegaram, então de certa forma eu sou culpado.

-Está preocupado com isso? Não se preocupe, a culpa não foi sua. Cedo ou tarde isso aconteceria. Estou feliz por estar vivo, e você deveria achar o mesmo.

-Não, só achei engraçado lembrar disso! - falei descontraído. - Na verdade, nem ligo para aquela cidade. Era um amontoado de bosta, no meio do nada, de onde nada se podia tirar. Eu queria mesmo era ter explorado aquele bunker. Fiquei curioso.

-É, pra falar a verdade, fiquei também. Ainda mais depois de ver o corpo de Domn lá... Ahh! que se dane... já era mesmo.

Já estávamos viajando por mais de 8 horas seguidas, e havíamos feito apenas uma única parada para um lanche. A conversa sobre a cidade foi boa para esquentar a mente, mas estávamos entediados demais para um diálogo muito longo. O frio entrava por nossas roupas e nos deixava sonolentos, mas não podíamos parar antes de chegarmos ao esconderijo que Thompson dizia conhecer. Se parássemos para dormir em algum outro lugar teríamos de cavar um abrigo, e seríamos obrigados a deixar os snowmobiles e trenós do lado de fora, o que chamaria muito a atenção, mesmo à noite. Seguir em frente era a única opção.

A noite começava a cair quando uma mudança na paisagem nos despertou do torpor. Alguns quilômetros adiante de nós, em cima de um morro de neve ligeiramente mais alto que os ao redor, havia um pequeno barraco. É claro que aquilo era completamente incomum, e por isso nos separamos de imediato, para que não estivessemos muito perto um do outro caso algo acontecesse. Mas não aconteceu. Ao nos aproximarmos, vimos que o barraco na verdade era uma barraquinha, e dentro dela um homem de barba branca e olhar embaçado mirava o horizonte. Thompson trazia uma antiga metralhadora AK-47, que ele tomou devidamente emprestada de um dos piratas mortos, e mirou-a para o homem enquanto chegavamos mais perto. Demorou até que o velho desse conta de nossa presença ali, e quando percebeu logo começou a falar:

-Clientes! Espetinhos de rato e iguana deliciosos! Vão levar para viajem, ou comer aqui mesmo?

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