Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

85. Farejados

Meus músculos se contraíram em uma fração de segundo e em seguida me impulsionaram para frente com toda a força que puderam fornecer. Me joguei contra a pesada porta de aço numa trombada estrondosa. Meu ombro direito latejava devido ao impacto, mas ignorei a dor e girei a trava da porta, selando-nos no interior do abrigo. Passan chegou em seguida com nossas armas, que seguramos e apontamos para a porta, como se esperássemos que um monstro gigantesco fosse abri-la à pancadas. É claro que nada abriu a porta, mas ainda assim esperamos bons minutos ali, a poucos passos de distância. Não podíamos mais ouvir o som de metal sendo raspado, apenas nossa respiração e o chiado constante dos equipamentos da sala ecoavam pelo lugar, e isso servia apenas para aumentar exponencialmente a tensão em nós.

-Chega dessa merda. Lisie, amplie a câmera 15 no telão -disse Passan abaixando a arma e caminhando para o fundo da sala, logo atrás de Lisie. Eu ainda olhei uma vez mais para a porta, conferindo a tranca, e então os segui.

O quadrado da câmera quinze tinha sido ampliado e mostrava, de um ângulo superior, um corredor com uma escada de serviço destruída ao fundo. Logo reconheci o lugar como sendo a entrada do esconderijo. Quem quer que quisesse entrar tinha que obrigatoriamente passar por ali. Apertamos a vista, tentando identificar algo, mas não havia nada ali. Passan navegou pelas diferentes câmeras, tentando encontrar o que havia feito os barulhos, mas em nenhuma delas havia qualquer coisa suspeita.

-Mas que... -resmungou Passan, parando antes de soltar o palavrão mas completando com um soco na mesa. Ele estava visivelmente frustrado e preocupado com a origem dos sons, e sua testa estava molhada de suor.

-Passan, porque não voltamos a imagem da câmera do corredor até a hora em que ouvimos o barulho -lembrou Lisie.

-Verdade, acabamos de usar isso e já me esqueci -Passan parecia mais aliviado com essa alternativa. Provavelmente ele pensara o mesmo que eu: cedo ou tarde teríamos que abrir a porta, fosse no dia seguinte ou semanas depois, e então teríamos de enfrentar quem, ou o que, estivesse ali. Descobrir com o que teríamos de lidar com era essencial.

Passan retrocedeu as imagens da câmera 15 para alguns instantes antes de ouvirmos os sons e então deixou-a prosseguir. Levou poucos segundos, mas todos prendemos a respiração. Um Diabo surgiu na parte debaixo da imagem, onde começava o corredor, e caminhou lentamente em direção à escada. Parou sobre o alçapão e abaixou a cabeça até o chão, voltou ao corredor e fez a mesma coisa nos cantos das paredes.

-Ele nos farejou! -exclamou Lisie, percebendo antes de Passan e eu o que o Diabo fazia ali.

Na imagem, a criatura tinha voltado ao alçapão e começado a raspar com as patas a tampa disfarçada do esconderijo de Passan. Parou por uns instantes, cheirou por todo o hall da escada, e então voltou a raspar o alçapão com ainda mais empenho, mas não por muito tempo. Desistindo de abrir a tampa o Diabo se aproximou da escada atulhada de escombros e se aninhou entre dois blocos de concreto, colocou a cabeça para trás e começou a lamber uma das patas traseiras.

-Essa coisa está fazendo o que? -perguntou Passan, fazendo careta de dúvida e incredulidade.

-Esperando a gente sair para nos atacar -respondeu Lisie, como se fosse óbvia a conclusão.

-Acho que não... acho ele está é se escondendo -e apontei para uma das câmeras que mostrava a rua do prédio.

Naquele exato momento três figuras vestindo roupas camufladas cruzavam a rua e sumiam atrás de um prédio.

Um comentário:

Unknown disse...

será que esse diabo vai acabar virando pet do nuke?