Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

30. Apostas

Podia ser pior, muito pior, repetia para mim mesmo, pessoas morrem por muito menos e você está vivo. Mas deitado naquele chão frio e úmido eu pensava que não me importaria de estar morto. Eu vivia apenas como um espectador, admirando as formas inimagináveis como a vida, a sociedade e a natureza se equilibravam precariamente naquele mundo louco e sem futuro. A luz da lua se espremia por uma pequena abertura na parede, era fatiada por duas barras de ferro verticais e morria no corredor de pedra entre as celas. O cheiro de sangue seco, de fezes e de urina infestava o ambiente, o andar dos ratos e camundongos criava uma trilha sonora não muito promissora, enquanto o guarda checava de hora em hora os prisioneiros das celas.

Quando eu e Thompson fomos jogados naquele buraco consegui contar 12 prisioneiros ao todo, mas no dia seguinte dois foram levados embora, e pudemos ouvir os gritos de perdão e desespero enquanto a lâmina da guilhotina ainda não os havia calado. Ficamos cerca de uma semana enfiados na escuridão, comendo pão mofado e duro, água suja - com urina e cuspe - e fazendo nossas necessidades em qualquer canto. Mas então, quando eu finalmente estava me acostumando com o cheiro de minha própria merda e de acordar com as mordidas dos ratos pela manhã, a porta se abriu e era nossa vez de irmos embora dali. Lembro de ter ouvido outros dois prisioneiros serem tirados de lá, mas depois de passarmos pela porta enfiaram sacos em nossas cabeças, e não vi mais nada.

Levaram-nos vendados pelas ruas da cidade, desfilando nossos corpos atrofiados para os compradores e comerciantes, de modo que servíssemos de exemplo para todos. Toda semana pelo menos 2 prisioneiros eram mortos, e condenados nunca estavam em falta, por mais que se guilhotinassem pessoas em praça pública. A pobreza, a fome e o desespero eram sempre maiores que o medo de perder a cabeça, logo haviam mais prisioneiros para morrer do que execuções por semana. Ouvi quando fomos trancados debaixo de um palanque de madeira, no qual a guilhotina ficava, enquanto ouvíamos a missa que acontecia todo domingo e que era ministrada pelo Padre-sherife de Tradeport. Não ouvi quase nada do que era falado, mas percebi que muitas pessoas acompanhavam aquelas missas, pois os longos sermões eram interrompidos por cantos e preces entoados por muitas vozes. Quando a cerimonia finalmente acabou sabíamos que tinha chegado nossa hora e pude ouvir Thompson soltar um gemido de amargura quando passos desceram do palanque e se aproximaram da porta onde estávamos.

-Hora de morrer. - Falou a voz grossa e inexpressiva do Sherife atrás de nós. - As apostas estão bem equilibradas. Qual de vocês dois irá sobreviver por mais tempo com a cabeça dentro de uma cesta? Quero uma graninha extra hoje.

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