Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

56. Passado e Presente

Quando o cheiro diminuiu me aproximei novamente, empunhando a lanterna. No banco do motorista havia o corpo de um homem, debruçado sobre o volante. Sua pele estava escura e repuxada, completamente colada aos ossos, enquanto suas roupas não passavam de farrapos. Em seu colo, enrolada nos restos de um cobertor, estava aconchegada uma menininha, ainda abraçada a seu ursinho de pelúcia.

-Eles deviam estar fugindo da guerra -murmurei atônito.

Anne chorava em silêncio. Lyriel se aconchegou nos braços do irmão, que abraçou-a com força. Thompson permaneceu em silêncio, olhos vidrados em lugar nenhum. E eu continuei a desenterrar o carro. Primeiro a parte de trás, onde pude ver malas, cobertores, garrafas de água e comida enlatada, depois as portas do lado esquerdo, e por fim a frente.

-Dispararam contra eles, vejam -anunciei, ao terminar de limpar a neve sobre o capô e encontrar diversas perfurações.

Eu não entendia. As portas estavam trancadas e os vidros inteiros. Nada fora roubado. Olhei, então, uma vez mais para o interior do carro. Os cabelos loiros da menininha brilhavam à luz da lanterna, e seu rosto, ainda que maltratado pelo tempo, continuava a guardar toda a calma e serenidade que faltava ao resto do mundo. Talvez, se todos tivéssemos um ursinho para abraçar e um colo para se aconchegar, pudéssemos dormir naquela mesma paz.

Provavelmente eu nunca saberia o que realmente aconteceu àquele pai e sua filha, mas sabia que nunca os esqueceria.

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