Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

97. Angústia

Recostado no parapeito, podia sentir meu coração bater forte no peito. Não fosse pelos óculos, meus olhos congelariam, tão abertos estavam, enquanto minha mente pensava em milhares de possibilidades ao mesmo tempo.

-Lobo para Águia -chiou o rádio, com uma voz desconhecida e diferente das anteriores. Para meu alívio. -Estamos retornando. Câmbio e desligo.

Tentei me tranquilizar, convencendo a mim mesmo de que Passan tinha suas câmeras espalhadas, e que provavelmente sabia antes mesmo de mim da presença dos soldados. Mas ainda me preocupava que pudessem empreender uma busca mais detalhada ao encontrar os vestígios dos dias anteriores no interior do prédio. Os Diabos tinham se refestelado com os corpos dos caçadores, mas em troca haviam deixado sangue espalhado por todo o andar térreo do lugar. Senti uma vontade súbita de descer as escadas e ajudar meus companheiros, mas algo dentro de mim dizia para esperar.

Ainda meio assustado levantei-me e olhei para baixo. Os dois soldados tinham voltado a caminhar pela rua, checando cada construção nos arredores, mas os que haviam entrado no prédio continuavam fora de vista. Corri então para o outro lado da cobertura e olhei para o antigo jardim que fazia fundos para outros prédios. Temia que pudessem subir pelas escadas de emergência e vasculhar o prédio todo. E apesar de o primeiro lance de escadas ter sido bloqueado com entulhos quase duas décadas atrás, ainda havia no topo uma pequena passagem entre os blocos de concreto e tijolo, pela qual eu me espremia para subir aos outros andares. Duvidava que eles subissem, mesmo que não houvesse a pilha de escombros, mas não saber onde estavam era angustiante.

Com o passar das horas a angústia apenas aumentou. Os soldados tinham se concentrado, aparentemente, na entrada do prédio, deixando apenas dois dos seus na rua a cuidar dos reparos do blindado. Não vi comoção entre eles, e deduzi que felizmente não haviam encontrado Passan e Lisie. Em compensação o frio tinha aumentado muito durante a tarde, o vento parecia cortar minhas bochechas desprotegidas, e o pequeno lanche que eu havia levado há muito acabara. A noite se aproximou lentamente, escurecendo as nuvens e enchendo as ruínas de Bermil com sombras ameaçadoras. E então, quando a noite chegou e os uivos dos Diabos começaram, o medo espantou a angústia e se alojou em mim com unhas e dentes.

Ou os soldados deixavam o prédio, ou a noite seria longa. Muito longa.

Um comentário:

Unknown disse...

hahaa agora toca a musiquinha de batalha ou a de andar furtivamente.