Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

domingo, 2 de janeiro de 2011

95. Raposa Blindada

Subi os lances de escada até o último andar o mais rápido que pude. Mesmo tendo um preparo físico invejável, sugava o ar gelado em grandes golfadas ao atingir a cobertura do prédio, exausto. Quando finalmente consegui me recompor e olhar em volta já não havia nada a se ver. O helicóptero tinha desaparecido de vista, camuflado nos infinitos tons de cinza e branco que cobriam a cidade e nublavam o céu. Me concentrei, tentando ouvir o barulho do motor, mas o vento era forte demais ali em cima.

A aparição misteriosa daquele helicóptero deixou rapidamente meus pensamentos ao contemplar Bermil. Daquele lugar privilegiado praticamente toda a antiga metrópole podia ser avistada. Colinas delimitavam o que foi a área urbana a leste, ao sul podia-se divisar os restos agonizantes de um rio assoreado pelos escombros da cidade, ao norte e oeste uma planície começava pouco antes do horizonte, indicando onde a área rural da região um dia estivera. Nada se movia na paisagem. Nada era colorido até onde a vista podia alcançar. E ainda assim a visão era maravilhosa. Levei muitos minutos admirando cada detalhe, tentando imaginar como seria morar em um lugar junto a milhares de outras pessoas. Aquilo tudo era desconhecido para mim, e para sempre continuaria a ser.

Deixei os sonhos de lado e voltei a me preocupar com o helicóptero. Aquela era a primeira aeronave que eu via efetivamente voando. Todas as que eu já havia visto estavam destroçadas, reduzidas a pilhas de metal enferrujado, ou sem combustível suficiente para fazê-las funcionar. Ver em funcionamento, e sobrevoando uma área urbana completamente arrasada por bombardeiros duas décadas atrás, era algo altamente incomum -até mesmo para um mundo como esse. Desejei que o helicóptero estivesse apenas de passagem, mas no fundo sabia que não estava. Eu podia senti-lo fazendo a volta ao longe, para novamente sobrevoar a cidade. Peguei o rádio, pensando em alertar Passan e Lisie, mas temi que, do mesmo modo como pude ouvir a chamada, quem quer que fosse também poderia me ouvir. Então me escondi o melhor que pude sob uma cobertura no telhado e esperei.

Poucos minutos se passaram até o barulho de motor pudesse ser novamente ouvido por entre as rajadas de vento. Mas dessa vez vinha de baixo, da rua.

-Raposa para Águia, Raposa para Águia. Na escuta?

O som das lagartas de um blindado se arrastando pelo asfalto logo se tornou inconfundível.

Um comentário:

Unknown disse...

hahaha esse capitulo tem cheiro de adrenalina.