Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

99. Na Mira

Mal dava para ver o caminho, tão escuro estava. Acendi a lanterna, mas mantive sua luz apontada para baixo, para que seu facho não me traísse. Pouco me importei com os chutes e tropeções nas coisas que estavam quase invisíveis nos corredores escuros, queria apenas chegar ao alçapão no andar de baixo. Os soldados só poderiam ter se escondido na entrada do esconderijo, e ajudar Lisie e Passan era tudo que conseguia pensar. Corri o mais rápido que pude até a porta de emergência e já pensava no que fazer depois quando vi outros fachos de luz.

Subindo do térreo, pela escada externa, luzes de lanternas cortavam a escuridão e se projetavam para cima. Parei de correr de imediato, deslizando alguns centímetros na poeira e na neve. Abri os braços procurando equilíbrio, e assim como parei, voltei a correr no sentido oposto. Já não me importava esconder a luz, apenas fugir o mais rápido possível. Podia ouvir a voz dos soldados conversando entre si enquanto avançavam pelos degraus. E mal tive tempo de chegar à sala na fachada do prédio quando na outra ponta do corredor suas silhuetas apareceram à porta.

Um facho de luz iluminou todo o corredor e parte da sala onde eu estava. Alguém gritou uma pergunta, mas não houve resposta, e depois a luz se apagou. Voltei à janela de onde a pouco os tinha observado e esperei. Tinha esperanças de que continuassem subindo, a procura de um lugar para ficarem, mas não confiava em minha sorte. Conferi minha arma, deitei entre algumas mesas jogadas e mirei a porta. Meu pé direito estava para fora do prédio, pelo vão onde a janela que ia do chão ao teto estivera. Dali, eram pelo menos cinco metros de queda até a escadaria de entrada.

Como eu temia, a movimentação dos soldados continuou pelo andar. Os focos de luz iam e vinham, cruzando a porta de entrada. Não demorou mais que dois ou três minutos até que um deles entrasse para revistar a ampla sala onde eu estava. Acompanhei-o com a mira. Sabia que se dependesse deles atirariam primeiro e perguntariam depois. Então seria eu a atiraria sem hesitar. O homem havia tirado o capuz branco que cobria a cabeça, mas mantinha a máscara ocultando-lhe  a face. Sua respiração era ruidosa através do filtro de ar, seu ritmo lento e compassado dava calafrios ainda maiores que o vento gelado que entrava da rua. Mas mantive-me focado, expulsando da mente todos os pensamentos. E quando os passos puderam ser ouvidos logo adiante, coloquei o dedo no gatilho e prendi a respiração.

-Águia para Raposa, na escuta? -gritou o rádio, acompanhando o disparo.

Nenhum comentário: