Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

59. Camuflagem

Hoje pouca coisa pode me surpreender, mas naquela época havia ainda muitas coisas a se ver, e aquele dia foi um dos que me lembro com clareza de ter tomado um susto. Jogamos nossas armas no chão e nos viramos lentamente para o lado de fora, assim como pedia a voz. Pulamos para fora, mas além do vento que cortava o vale entre as colinas não havia mais nada. Alguma coisa estava errada, e eu podia sentir.

-Mas que merda fedida, estão brincando com a gente! -vociferou Thompson, e se virou para o veículo novamente. Mas então meus dias de caminhada pela imensidão vazia se mostraram úteis, quando um tom de branco manchado na neve me chamou a atenção.

-Espere Thompson, não se mecha. Veja ali, acima daquelas rochas, uns 30 passos daqui -e fiz um sinal com a cabeça. -Eles estão nos observando antes de agir.

Neste momento dois soldados se levantaram da neve e caminharam até nós, de armas em punho. Eles usavam máscaras de gás e capacetes com viseira, roupas térmicas e botas com aquecimento, tudo disfarçado no mesmo tom de branco da neve fofa que recobria as colinas, inclusive suas armas. Eram como fantasmas deslizando. Mantivemos os braços erguidos o tempo todo, mas tenho certeza que Thompson falou alguma coisa por entre os dentes que apenas Yoseph entendeu, pouco antes dos soldados chegarem até nós. Pensei em me virar e dizer que não fizessem nada, mas provavelmente teria sido uma má ideia. Ao invés disso encarei o inimigo e simplesmente esperei. Sem que percebêssemos outros dois soldados chegaram pelas laterais do caminhão. Tinham se escondido com ângulos de visão diferente dos demais, de modo que sequer imaginei que estivessem ali. Temi por Anne quando a vi tremer da cabeça aos pés, constantemente lançando olhares temerosos a pobre Lyriel, que já não mais se movia no chão do caminhão. E nada podíamos fazer.

-Me surpreendeu, garoto. Mesmo um homem treinado teria levado muito mais tempo para encontrar meus homens camuflados nessa neve fofa. -Falou um dos homens, desafivelando a máscara de gás e a viseira. Devia ter pelo menos 40 anos, cabelos esbranquiçados, olhos castanhos, feições duras. Caminhou em volta de nós quatro analisando-nos. Então finalmente falou outra vez. -Quem, diabos, são vocês, afinal?

Ninguém respondeu.

-Eu perguntei: quem, diabos, são vocês, afinal? -aumentando o tom de voz.

E novamente não houve resposta.

-Talvez... se eu ajudar a abrir a boca, alguém resolva falar... -e agarrou Yoseph pelo pescoço, abaixando sua cabeça e forçando o cano de uma pistola por entre seus dentes. Yoseph tossiu e cuspiu sangue, ainda com a arma na boca, mas o soldado não parecia se importar. -Vamos, moleque, fale alguma coisa! FALE!

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