Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

91. Leite-em-pó

O primeiro que apareceu na minha frente cruzou a pequena sala de entrada voando e por pouco não saiu pela janela. Os ratos que haviam tomado aquele lugar eram maiores do que qualquer outro que eu já tivesse visto. A cada chute dois ou três roedores voavam de encontro às paredes. Eram centenas, talvez milhares deles. Corriam e pulavam por entre os brinquedos empoeirados, como se brincassem com eles. Havia fezes em toda parte e o ar estava impregnado com um cheiro medonho de carniça e mofo. Carcaças de ratos e outros restos mortais se espalhavam pelos cantos em amontoados de quase meio metro de altura, de onde eles entravam e saiam sem parar.

Comecei a cruzar a enorme sala, onde provavelmente as crianças passavam boa parte de seu tempo brincando com as monitoras enquanto seus pais trabalhavam em algum escritório pelo prédio, mas havia um exército de roedores no caminho. Na parede oposta havia uma porta de onde se podia ver algumas mesas, e imaginei que a cozinha e a despensa deveriam ser naquela direção. Com sorte encontraria uma lata ou duas de leite-em-pó, que serviriam de alimento ao diabinho. Mas infelizmente não fui muito longe. Antes de chegar à metade da sala os pequenos soldados dentados, que até então tinham ignorado minhas investidas violentas contra alguns de seus familiares, pareceram acordar para o perigo. Como se fossem um, mostraram os dentes e se ergueram nas patas traseiras, guinchando em desafio. Me imobilizei de imediato, tentando não demonstrar ameaça, mas não houve sequer tempo de pensar em como agir. Do tamanho de um gato, vindo do banheiro, surgiu o que provavelmente era o rei daqueles ratos. Com dentes tortos e amarelos ele avançou com o corpanzil pelo meio de suas fileiras de guerreiros roedores, guinchando estridente.

Tive tempo apenas de tapar as orelhas e me encolher enquanto corria para o corredor, em meio à uma chuva de ratos kamikazes, que se atiravam ao ar das prateleiras de brinquedo tentando me atingir. Fechei a porta atrás de mim com um chute, e com outros dois dei cabo dos roedores que tinham conseguido sair da creche, jogando-os para longe e fazendo-os correr.

Com a respiração ofegante já estava pensando em uma desculpa para dar a Lisie quando um barulho soou sobre minha cabeça. Abaixei-me por reflexo, e de olhos semi-cerrados olhei para cima. Só então percebi que o som viera do andar de cima. Havia alguém lá.

Um comentário:

Unknown disse...

haha! ratos kamikazes!
cena linda de se imaginar
=]