Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 5 de maio de 2009

41. Feridas e Cicatrizes

Ficamos estáticos, mal respirando. Os segundos seguintes demoraram a passar. Era como se o mundo tivesse parado de girar, preso àquele momento, em silêncio. Mas eu ainda podia ouvir o estrondo ecoando em meus ouvidos, minhas pernas lutavam para pararem de tremer e meu coração tentava abrir um buraco em meu peito e fugir. Thompson olhava da porta para o corredor, tentando não ser pego de surpresa. Seu coração batia tão forte que se podia ouví-lo naquele silêncio, e mesmo assim, à luz fraca que deslizava pela fresta da porta, ele não demonstrava medo algum. E quando a sombra voltou adiante da porta, ele apenas segurou firme a arma e se preparou.

Com um barulho metálico a tranca foi aberta. Lentamente a porta se abriu, deixando jorrar luz escada abaixo. Uma cortina brilhante se formou na poeira que flutuava e rodopiava no ar praticamente parado. Thompson ergueu rapidamente a arma e disparou apenas uma vez. O lampejo refletiu em seus olhos, apenas fúria saía deles. E antes mesmo que eu pudesse entender, ele se projetou escada acima, pulando os poucos degraus que faltavam e se jogou contra a porta. Com um baque surdo quem estava do outro lado foi arremessado. Quando corri escada acima Thompson já tinha um dos pés no peito da pessoa e sua AK-47 apontada para seu rosto. Havia um corte na testa do homem caído e um filete de sangue escorria-lhe pela orelha. Ele não era velho, mas duas décadas de um mundo podre tinham levado sua juventude embora.

O rosto do pobre homem era cheio de cicatrizes, seus braços tinham marcas horrendas e pedaços faltando ou sobressaindo, dois dedos da mão esquerda tinham sumido e havia um curativo mal-feito em sua perna esquerda. Na mão direita segurava uma pistola, saindo debaixo de suas costas se podia ver o cabo de uma metralhadora, e em sua bota havia uma faca. Uma mancha vermelha de sangue crescia em seu uniforme azul e se espalhava por toda a região da cintura.

-Sua mira e seus reflexos continuam muito bons, mesmo depois de tantos anos - tossiu o homem, cuspindo parte do sangue que escorria do corte em seu lábio. Então sorriu maliciosamente e continuou. -Achei que nunca mais veria o garotinho mirrado, com medo do escuro, que vivia fugindo das aulas de primeiros-socorros.

-Tinha medo de lembrar de sua mãe gritando de prazer, nas noites em que passei com ela. -Faltou Thompson, comprimindo o cano da arma no ferimento aberto na barriga do sujeito, com expressão de poucos amigos. -Talvez devesse ter suturado sua boca e cortado fora seu pau quando tive chance.

-Thompson, seu puto! -Gargalhou o homem, com os dentes pintados de sangue. -Minha mãe tinha quase sessenta anos!

-Eu sei, por isso tinha medo. -E tirou o pé do peito do inimigo caído, ajudando-o a se levantar. E sem alterar sua expressão, falou. -E da próxima vez não vou errar o tiro.

-Mas você acertou, oras... Esse sangue todo que o diga! Meu coração não para de bombeá-lo para fora, e minha boca já tomou quase um litro dele!

-Se tivesse acertado, a porta não teria absorvido o impacto e você estaria perguntando a sua mãezinha se ela sente saudades de mim neste exato momento.

-Desgraçado... continua igualzinho!

E eu e Anne não dissemos palavra, boquiabertos.

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