Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

81. Lisie

Quando o rádio chiou em cima da mesa e uma voz feminina chamou por Passan quase tive um ataque fulminante. Mas foi quando ela entrou no abrigo que o Universo parou por um instante para admirá-la. Acho que esqueci de respirar por alguns minutos, pois quando dei por mim estava ofegante.

-Passan, veja o que encontrei no terceiro andar. Parece que... -sua voz se perdeu quando seu olhar cruzou o meu. Seus lábios se moveram, mas não falaram. Seus olhos arregalaram e o que quer que estivesse segurando foi ao chão. Achei que fosse gritar de medo, mas uma única palavra inundou a sala. -Nuke!

Com o mesmo olhar de que me lembrava a garota se jogou contra mim em um abraço apertado. Muitos meses tinham se passado desde que a vi pela primeira vez. Na verdade, ela me vira primeiro. Eu havia acabado de fugir do acampamento dos Escravizadores e tinha passado boa parte da noite correndo na escuridão. Pouco antes de cair exausto entrei em um veículo abandonado e adormeci profundamente. Pouco depois estava sob a guarda do RR, o exército rebelde Rosa Radioativa, que cuidou dos meus ferimentos e me deu roupas e equipamentos para continuar minha jornada solitária. Mas o RR também levou algo de mim, dentro dos olhos azuis de uma de suas combatentes. E apenas agora eu me dava conta disso.

-Pelo visto já se conhecem mesmo, não é? -disse Passan com um sorriso. -Venham, vamos nos sentar, comer alguma coisa e botar a conversa em dia. Tenho uma ou duas latas de feijão que venho guardando pra uma ocasião como esta.

Passan trouxe os feijões e um vidro de geléia de amoras. Eu tenho vagas lembranças de ter comido feijão quando era um garotinho, mas geléia era a primeira vez que comia. Não me lembro bem do gosto, mas acho que era bom. Eu estava mais interessado em ouvir o que aqueles olhos azuis tinham a dizer, de modo que comer, pensar ou falar estavam em segundo, talvez até em terceiro plano.

-Obrigada por tê-lo deixado entrar, Passan. Mas não precisava tê-lo assustado daquele jeito, não é? Eu ouvi tudo lá de cima. Até que foi engraçado, mas o coitadinho deve ter morrido de medo -então eles já sabiam quem eu era. Ela sabia! -Veja como ele ainda está meio avoado. Deve estar assustado ainda.

Eu estava mesmo avoado, e realmente era por causa do susto. Mas não do que Passan me dera, e sim do que ela me dera. Sua presença ali era quase inacreditável e completamente inesperada. Não sabia o que dizer, e em minha mente só ficava imaginando quais as chances de isso ter acontecido. Ainda assim, depois de quase engolir a colher e engasgar com o feijão tentando juntar coragem, falei pela primeira vez.

-A-ainda não nos apresentamos -comecei sem jeito. -B-bom, você sabe meu nome... mas, eu não...

-Lisie. Muito prazer!

Um comentário:

Unknown disse...

haha depois de uns 70 capitulos finalmente sabemos o nome da mulher de olhos azuis