Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

89. Ganido

Primeiro desejei com todas as minhas forças ter uma lanterna. Depois me amaldiçoei por ter deixado a segurança do abrigo sem o mínimo de equipamentos para tal - está certo que eu não imaginava correr atrás de um homem de mais de 40 anos pelas ruas de uma cidade em ruínas pouco antes do anoitecer, mas foi uma tremenda burrice que não cometi muitas vezes mais em minha vida. A cada segundo que se passava o corredor escurecia mais e mais, e mesmo meus olhos treinados logo tornaram-se tão inúteis quanto os de um cego. Fiquei imóvel, tentando ouvir qualquer sinal de que o perigo avançasse. Mas no fundo sabia que, se ele viesse, não haveria tempo de reação.

Aquele Diabo já tinha se mostrado capaz de atacar em uma fração de segundo com uma ferocidade aparentemente incompatível com seu corpo franzino, e isso obviamente não saía de minha cabeça. Ainda assim não tinha perdido toda a esperança de sobreviver. O animal ainda não tinha atacado, e fora o movimento e o ganido iniciais, não houve outro sinal de vida por segundos que pareceram horas. Se ele não havia atacado ainda, então talvez não atacasse. E, torcendo para que eu estivesse certo, dei um passo atrás. Não houve reação. Outro passo. Nada novamente. Três passos seguidos, e finalmente um som em resposta. Meus sentidos se aguçaram, meus músculos se retesaram, mas não foi o Diabo que se mostrou.

Um ponto brilhante surgiu no final do corredor. Um facho de luz cortou a escuridão densa, fazendo-me apertar os olhos com a claridade repentina. Eu continuava praticamente cego, mas tinha certeza de quem segurava aquela lanterna e respirei profundamente aliviado. Sorri envergonhado quando ela se aproximou e seus olhos azuis se iluminaram saindo da escuridão. Tentei disfarçar, mas meu embaraço era mais que evidente. Lisie ainda disse alguma coisa tranquilizadora enquanto seguíamos para o alçapão, mas não cheguei a prestar atenção, a adrenalina deixava meu corpo e um alívio extremo dominava minha mente.

-Onde está o Diabo? -perguntei quando passamos pelos corpos dos caçadores.

-Está bem ali - falou Lisie, apontando o facho de luz para os escombros na escada. Uma massa avermelhada de sangue e poeira estava amontoada entre grandes blocos de concreto. -Vimos pelas câmeras quando ele se arrastou para aquele canto. Mal se moveu desde então. Deve estar pra morrer.

Eu já descia a escada do alçapão quando um ganido muito baixo e agudo veio dos escombros. Não era o Diabo.

Um comentário:

Unknown disse...

rá! é um bebe diabo!

novo pet de nuke e que terá a alcunha de hellboy, aposto!

não que na história tivesse algum cliche destes até agora....