Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

58. Sutura

Olhei por cima do ombro e não vi ninguém. Thompson sequer tinha se importado em olhar e simplesmente se jogou atrás do caminhão. Antes mesmo que eu pudesse chegar ao caminhão e me juntar a Anne e Thompson, que se protegeram junto a Lyriel, Yoseph já disparava sua espingarda.

-Proteja-se, Yoseph! Proteja-se! -berrava Thompson, enquanto abria a porta do caminhão em busca de sua metralhadora. Mas Yoseph estava tomado pela fúria, e só ouviu quando sua arma parou de atirar, sem cartuchos. Ainda assim ele chacoalhou-a e tentou disparar novamente, antes de se esconder para recarregá-la. Já com sua Ak-47 em punho, Thompson xingou-o e deu-lhe um safanão muito mais forte do que o que tinha dado em mim. -Seu imbecil! Se estiver morto não vai servir para nada além de alimentar os ratos!

Yoseph estava vermelho, fumegante. Não tenho certeza se ouviu o que Thompson lhe disse, enquanto enfiava furiosamente os cartuchos em sua arma, mas pareceu concordar com a cabeça.

-Onde eles estão? ONDE? -Perguntou Thompson, que espremia-se na lateral do caminhão para enxergar.

-À esquerda do topo, procure pela mancha vermelha na neve -explicou Yoseph, que subia na lateral do caminhão e procurava um ponto de apoio para disparar por cima do caminhão.

Ajudei Anne a por Lyriel para dentro do caminhão pela porta da cabine. Seu ombro esquerdo tinha um enorme buraco, e grande parte de seu sangue tinha se perdido na neve. Eu queria ajudar, mas Anne tinha entrado em um estado de extrema concentração, e, por mais que eu gritasse para que ela dissesse do que precisava para salvar Lyriel, não recebia resposta. Com um kit de primeiros-socorros militar começou a limpar o ferimento e preparar agulha e linha para fazer a sutura. Lembro de ter pego minha pistola e fazer menção de sair e ajudar Yoseph e Thompson, mas ao espiar por uma das frestas entre a blindagem da janela vi que não havia mais no que ajudar. Ainda pude ver quando um homem teve seu corpo semi-dilacerado, por um dos disparos de espingarda, e outro teve seus miolos espalhados na neve pela arma de Thompson.

-Ly! Como você está? -entrou gritando Yoseph pela porta traseira e se agarrando ao braço ileso de Lyriel, que permanecia estirada no chão do caminhão.

Os lábios de Lyriel estavam roxos, sua pele ainda mais branca, e sua respiração diminuía a cada instante. Anne se esforçava para terminar de suturar o ferimento e fazer o curativo. E assim que o fez, cobriu-a com diversos cobertores, tentando mantê-la aquecida.

-Ela perdeu muito sangue -explicava Anne, aflita e com lágrima nos olhos -muito sangue, não sei se...

-TODOS OS QUE ESTIVEREM NO INTERIOR DO VEÍCULO, LARGUEM SUAS ARMAS E SAIAM LENTAMENTE -ecoou uma voz grave e eletrônica, interrompendo Anne e fazendo todos enrijecerem. -NÃO SE PRECIPITEM, OU NÃO HAVERÁ MISERICÓRDIA.

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