Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

47. Colina Branca, Rastro Cinza

Eu podia sentir aquela gota de sangue escorrendo em minha bochecha. Podia sentir o cheiro de pólvora no ar que inundava meus pulmões. Sentia o impacto daquele corpo sem vida no chão. Sentia o medo se esvair daqueles olhos surpresos. Tudo em câmera lenta.

E quando finalmente meu cérebro desacelerou, Thompson tentava aos gritos tirar a pistola de minhas mãos. Ao fundo um alarme tinha disparado e em algum lugar uma luz vermelha piscava. No teto todos os monitores tinham mudado sua imagem e agora mostravam as entradas dos prédios. Anne tinha se encolhido junto à parede e soluçava, lágrimas escorrendo de seus lindos olhos.

-Nuke! Nuke...! - Insistia Thompson, quase quebrando minha mão de tanta força que fazia. -Largue a arma. Agora!

-Tá... tá... -falei, ainda atordoado. Simplesmente abri as mãos e deixei a arma cair. Não sei quanto tempo se passou, mas em algum lugar em minha memória ainda ouço Thompson gritar várias vezes que eu já podia abaixar a arma.

Eu tinha ficado atordoado. Não de medo ou arrependimento, mas de prazer. E a partir daquele dia passei a entender porque algumas pessoas gostam de matar. O que as fascina não é a morte em si, mas o poder que emana da capacidade de fazê-la. E eu me senti assim, poderoso. Minhas mãos tremiam, minhas pernas bambearam, meus braços amoleceram, e tudo o que eu sentia era êxtase. Infinitas sensações e pensamentos percorreram meu corpo e minha mente naqueles instantes, mas hoje já não sinto nem me lembro de nenhum.

-Um dos veículos chegou até aqui, Nuke. -Continuava Thompson, tentando me tirar de meus devaneios. -Precisamos agir, e infelizmente você não terá tempo para se acostumar com o fato de ter matado alguém, pois terá que fazê-lo de novo, se não quiser se encontrar com Pedra tão cedo no inferno.

-Tá... tá... -repeti, olhando em volta enquanto recuperava minha arma.

-Temos que correr, vamos nos preparar para quando eles arrombarem alguma das portas.

-Thompson, espere! -Gritei, fazendo Thompson derrapar no chão liso. Apontei para um dos monitores. -Acho que eles estão tramando alguma coisa.

A câmera daquele monitor estava apontada de cima de um dos prédios para uma colina próxima. No meio da tela um borrão preto se mechia no topo da colina coberta de neve.

-O que é aquilo que ele está segurando? -Perguntei. E no mesmo instante um rastro de fumaça cinza deixou o borrão e cortou o ar velozmente em direção ao prédio.

-LANÇA-MÍSSEIS! -E a explosão ecoou pelos corredores.

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