Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

20. Morangos

Corremos feito loucos o caminho de volta. Ofegantes ao pé da escada, arriscamos olhara para trás, porém só podíamos ver a nuvem de poeira que erguemos ao passar pelo corredor. O som de passos havia parado e tudo estava mergulhado em um mar de silêncio. Também não se ouvia nada vindo da superfície, o que indicava que o ataque havia cessado e logo invadiriam a cidade.

-Vamos Nuke, dane-se o que tem aí. Prefiro viver.

-Sim, vamos.

Thompson já estava no terceiro degrau quando o barulho de ferro recomeçou. Ele esticou a cabeça para baixo do buraco, bem a tempo de ver uma máscara-de-gás negra e desgastada surgir por entre a poeira e as teias de aranha. Não conseguimos identificar quem era, mas o pé-de-cabra em suas mãos estava pintado de sangue e não parecia amigável. Eu estava aturdido. Fosse quem fosse, devia estar lá a muitos anos, mas ainda assim estava vivo. Suas roupas estavam completamente arruinadas, e sua pele parecia queimada. Se Thompson não tivesse me puxado pela gola, talvez eu tivesse ficado em transe, e o barulho que o pé-de-cabra fez na escada teria sido abafado pelo impacto com meu crânio.

Saímos pela escada e encontramos a cidade quase completamente em ruínas. No lugar do portão principal havia um enorme caminhão blindado, completamente adaptado para guerra. Alguns homens trajando coletes e capacetes andavam pelos escombros, conferindo se todos estavam mortos. A oficina, por milagre, estava intacta, então corremos para lá e ficamos em silêncio. Quando um dos piratas entrou na oficina sequer teve tempo para disparar. Eu e Thompson já o golpeávamos incansavelmente com duas barras de ferro, até que seu corpo parasse de se mexer.

-Suba nesse snowmobile que você consertou e prepare-se para sairmos - disse Thompson - Eu já volto.

Mal tive tempo de entender o que eu havia ouvido e ele já estava correndo por entre os escombros até sua casa. Fiquei imaginando quanto tempo levaria para que os outros piratas dessem por falta do que havíamos matado. Mas em menos de dois minutos ele estava devolta, com um sorriso triunfante. Debaixo do braço trazia um pequeno vaso com uma planta de folhas largas caindo para fora. Era a primeira planta que eu via em muitos anos. E esta parecia extremamente verde e sadia como nenhuma outra.

-A cúpula de vidro em que eu a mantinha a salvou de ser esmagada!

-O que é isso?

-Um pé de morangos, oras. Como acha que eu comprei esses dois snowmobiles?

-Você comprou dois snowmobiles com UM MORANGO?

-Não, seu idiota. Foram dois morangos.

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