Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

67. Exército de Amrak

-O que quer aqui moleque? Não temos pipa, bola nem peão aqui pra você brincar -esbravejou o soldado, que se esparramava em uma velha cadeira de plástico atrás de uma pequena mesa também de plástico.

-Quero me alistar -falei sem dar ouvidos à ele.

-Ah, sei. E acha que vai ganhar um pirulito, né? Vai fazer o que com o pirulito, enfiar no cuzinho até ele derreter?

A princípio pensei em não dizer nada, e ficar ali parado até que ele fizesse meu cadastro, mas meu corpo tinha sido inundado de adrenalina e minha boca já não era mais controlada por mim.

-Talvez. Mas eu prefiro enfiar no seu e ver o palito sumir.

O soldado arregalou os olhos imediatamente. Quem passava em volta congelou no lugar, esperando a reação. O homem então ficou vermelho, e numa explosão de raiva voou por cima da mesa, jogando ela e a cadeira longe, numa nuvem de folhas de papel rodopiantes.

-VOU TE MATAR, SEU FEDELHO DESGRAÇADO, FILHO DE UMA PUTA DEFORMADA RADIOATIVA.

Nesse ponto meu pescoço era esmagado pelas duas mãos do soldado, e metade do acampamento tinha se reunido a nossa volta gritando por sangue. Eu tentava me defender como podia, socando e estrebuchando, mas meu agressor era muito mais forte. Num último suspiro antes de sufocar estiquei meus dedos em seu rosto e comprimi seus olhos com toda a força que consegui juntar. Ele então soltou meu pescoço e levou as mãos ao rosto num urro de dor. Contorci-me para trás, coloquei meus pés em seu peito e empurrei-o para longe. Eu ainda tossia, tentando respirar, quando ele finalmente conseguiu abrir os olhos e me encontrar. Ele cambaleou até mim, com o rosto ainda mais vermelho que antes, e chutou-me no estômago. Senti a biqueira da bota militar cutucar meu órgãos antes de cair no chão, encolhido para escapar dos outros chutes que viriam.

-Pare! -falou uma voz grossa, para meu alívio. Eu já estava para me arrepender da bravata quando um homem, vestindo um uniforme diferente dos demais, cheio de medalhas e brasões, encerrou a briga. Todos os soldados bateram continência e se puseram em posição, aguardando ordens. -Estão todos dispensados. Tratem de voltarem a seus afazeres.

-Senhor, eu... -começou a falar o soldado com quem eu brigara.

-Cale-se!

-Senhor, sim senhor -falou o soldado, colocando-se em posição de sentido.

-Ele queria se alistar, soldado?

-Senhor, sim senhor.

-Se já apanhou o suficiente, garoto -disse ele a mim- recomponha-se e apresente-se ao comandante em serviço. Você acaba de assinar seu atestado de óbito. Seja bem-vindo ao exército.

Nenhum comentário: