Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

66. Amrak

Os dias passavam lentamente para mim. Thompson tinha se acostumado na primeira semana, arrumado um emprego junto aos pesquisadores da cidade, e encontrado uma pequena casa para morar. Anne tinha reencontrado sua família, e agora desfrutava a companhia de seus tios. Enquanto isso, eu me esforçava para fazer milagres no conserto dos veículos da oficina onde eu conseguira emprego. Quase não havia veículos na cidade, já que a maioria era usada pelo exército, e quando havia, não se encontravam peças que lhes servissem, então quase não pude desenferrujar meus conhecimentos de mecânica.

Passava a maior parte de meu tempo livre lendo qualquer coisa que encontrava, desde livros à revistas e quadrinhos. Era minha forma de aprender, já que não havia escolas, e de me distrair, dando as peças para que minha imaginação montasse o quebra-cabeças daquele mundo passado, do qual restavam apenas fragmentos. As visitas semanais de Anne e Thompson me ajudavam a conhecer um pouco do universo próprio em que a cidade estava mergulhada, mas uma rápida olhada nas ruas me desanimavam um passeio. Anne sempre me convidava a visitar seus familiares, mas eu não tinha vontade de vê-los, pois sabia que isso me faria sentir falta de meu pai. E já haviam se passado mais de três anos desde a última vez em que nos vimos.

Haviam muitas pessoas pelas ruas, a maioria cuidando de seus próprios assuntos, o que as deixava sem tempo de sequer olharem para aqueles que lhe cruzavam o caminho. Emprego é o que não faltava pela cidade. Em todo o canto era preciso de gente especializada para isso ou aquilo, e em nenhum canto se encontrava quem trabalhasse. O salário, que servia para a compra de comida e aluguel de moradia, era quase sempre o mesmo: 200 créditos Amraks, pagos diretamente nas pulseiras eletrônicas. Haviam empregos mais bem remunerados, mas normalmente em serviços que demandavam alto conhecimento específico, como o de pesquisas tecnológicas de Thompson, oferecidos pelo governo de Amrak. A comida -que eu não suportei desde o primeiro dia, me fazendo ter saudades da carne seca de iguana e da ração militar- era composta por uma dezena de cápsulas e uma massaroca de fibras. As cápsulas continham todos os nutrientes e minerais necessários para suprirem as necessidades diárias de cada pessoa, enquanto a massa, que alguns diziam lembrar macarrão, era necessária para evitar o atrofiamento do sistema digestivo pela falta de ingestão de alimentos sólidos. Tudo era fabricado em uma indústria, cuja chaminé soltava constantemente uma espeça fumaça negra, de aparência bastante duvidosa.

Mas a comida, os empregos, as pessoas e solidão não me incomodavam tanto quanto ficar parado. O fato era que eu não suportava ficar preso àquela cidade, dentro de seus limites murados. E apenas três meses se passaram antes que eu decidisse retomar minhas andanças em busca de coisa alguma, pelos escombros e amontoados de neve daquele mundo arrasado.

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