Logo os outros três caminhões, incluindo o nosso, estavam avançando velozmente pelo túnel, que era capaz de comportar dois veículos lado a lado e tinha altura para mais de cinco homens. Ao final dos quase 3 quilómetros um grande portão de ferro utilizado para selar o túnel se abria, permitindo nossa passagem. Depois de alguns minutos na escuridão a luz que se venceu as nuvens no céu e se espremeu pelas frestas na blindagem foi suficiente para nos ofuscar por alguns instantes. Mesmo o Comandante freou bem a tempo de não derrubar uma tenda militar, depois de seus olhos se acostumarem com a luminosidade. Descemos do veículo e diversos soldados se aproximaram, Von Ricky imediatamente deu ordens para que retirassem os equipamentos dos caminhões e reparassem os danos de um deles.
Por toda a volta, sobre os restos de um pátio asfaltado, haviam tendas militares, veículos blindados, equipamentos e armas de todos os tipos. Soldados se apinhavam pelo o pouco espaço que restava, tentando realizar suas tarefas antes que algum superior os culpasse pela demora. Do lado oposto à escarpa e a entrada do túnel um grande muro de tijolos podia ser visto se erguendo acima das tendas. Fios de arame farpado cobriam toda a extensão do muro, enquanto guaritas podiam ser vistas até se perder de vista. Eu estava absorto observando todo aquele movimento, toda aquela enorme quantidade de pessoas. A última vez em que eu havia visto tantas pessoas reunidas fora durante meus anos de trabalho para os Escravizadores, e a maioria era de escravos. Mas eu não tinha tempo para pensar no passado, e Anne me lembrou disso quando desceu aos prantos do caminhão carregando, com a ajuda de Yoseph, o corpo de Lyriel. Me apressei em ajudá-los e Thompson chegou em seguida.
-Ei, você, soldado! -esbravejou Von Ricky acima do barulho que dominava o acampamento a um coitado que passava. -Mande o pessoal do hospital para cá, imediatamente.
-Senhor. Sim, senhor -tremeu o pobre soldado, e saiu apressado em busca de ajuda.
-Ela perdeu muito sangue... m-muito sangue... -Anne fazia força para que palavras saírem, mas os soluços impediam.
Quando os médicos chegaram, todos militares fardados, trazendo equipamentos e uma maca, agiram depressa. Um dos homens examinou os batimentos cardíacos, enquanto outros dois tiravam as bandagens do ferimento para examiná-lo. O buraco deixado pela bala era enorme, estava vermelho escuro e tinha uma aparência apodrecida. Eles se preparavam para colocá-la na maca quando um dos médicos gritou:
-Parada cardíaca! Parada cardíaca! Carreguem o desfibrilador e afastem-se todos! -e imediatamente os médicos colocaram Lyriel novamente no chão.
Cinco descargas depois e o coração havia finalmente desistido. A guerra fazia mais uma vítima, em sua colheita sem fim pelo mundo.