Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

93. Décimo Primeiro Andar

Subi pela escada de incêndio. Olhei pela janela e vi o corpanzil de um dos enormes ratos que eu havia chutado no dia anterior, cuja barrigada havia sido parcialmente devorada e espalhada pelo corredor. Logo todo ele teria sido comido pelos de sua espécie. Um vento forte cortava Bermil naquela manhã, fazendo meus ossos congelarem, depois de me acostumar com o calor aconchegante do esconderijo de Passan. Decidi deixar que os ratos se acabassem e subi outro lance de escada. A porta estava emperrada, enferrujada com os anos, mas a janela do corredor tinha tido seu vidro quebrado. Com um pouco de cuidado consegui entrar. 

A enorme sala para a qual o corredor de emergência se abriu ocupava quase toda a extensão daquele andar. A área estava dividida em incontáveis micro-salas, separadas por paredes de madeira prensada de um metro e meio de altura. Os computadores que não haviam sido saqueados estavam arruinados pelo chão, junto a um mar de folhas de papel e outros materiais de escritório. Algumas das janelas, que iam do chão ao teto, estavam quebradas, fazendo uma corrente de vento constante cortar os corredores e erguer redemoinhos de papel e neve pelo ar. De arma em punho, entrei esperando que algo ou alguém pulasse sobre mim, mas quando senti o vento frio cortar meu rosto relaxei um pouco. Ali não era um bom lugar para um ser vivo comum se abrigar, e a julgar pela força do vento e pela bagunça espalhada pelo chão, bem como pelas quantidades enormes de neve acumuladas em cada lugar possível, nada nem ninguém vivia ali por muitos anos. Ainda assim não abaixei a arma. 

Comecei a circular pelos corredores que separavam as baias onde antigamente pessoas trabalharam. Me senti como se andando pelas lápides de um cemitério, onde as memórias daqueles que um dia estiveram ali  pairavam pelo ar, intocadas pelo vento que soprava feroz e parecia lhes dar voz, como fantasmas atormentados. Eu quase podia ver as pessoas andando apressadas, de um lado para o outro, em seu último dia naquele lugar, completamente alheias ao que lhes estaria reservado para o dia seguinte. Imaginei os olhos inchados de quem chora sem parar, as mãos sujas de sangue e poeira, e o sentimento de desespero e medo, não da morte, mas da solidão. Quando o véu da realidade finalmente ruiu, duvido que alguém estivesse preparado.

Agachei e peguei um porta-retratos no chão. Uma moça bonita de cabelos castanhos segurava uma menininha nos braços, sorrindo alegres em uma praia ensolarada.

-Estaria eu preparado? -e na hora não soube se disse num sussurro, ou se alguém mais dissera.

Um comentário:

Unknown disse...

foi só aparecer uma mulher que o nuker fica mais azul...