Quando o planeta já não mais podia suportar a humanidade, uma luz brilhou no horizonte e subiu aos céus.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

28. O Sherife e o Padre

-Eu disse que conseguiríamos um lugar pra vender essas coisas! - exclamou Thompson, ao ver o tamanho do lugar.

E tínhamos dois trenós cheios. Havia uma boa quantidade de morteiros, sempre valiosos, já que se podia lançá-los com as mãos ou utilizá-los como explosivos. Conseguimos salvar um bom tanto de caixas de cigarro e pacotes de fumo, alguns charutos e até mesmo isqueiros intactos, todos com alto valor depois que quase desapareceram junto com a Explosão. Um único gole de whisky, fosse qual fosse a marca, poderia comprar um veículo, suprimentos, armas e munições, e nós tínhamos vários goles. Mas nosso maior tesouro eram duas dúzias de revistas, que não passariam de amontoados de folhas cobertas por uma capa mais resistente e presas com grampos, não fosse pelo que havia sido impresso nelas. Aquelas eram, muito provavelmente, os últimos exemplares de revistas pornográficas que deviam existir em centenas, talvez milhares, de quilômetros dali. E nós sabíamos disso.

Dois guardas nos escoltaram pelas ruas vazias até onde parecia ser o centro da cidade-mercado. Lembro-me de um deles ter nos avisado para ficarmos longe de problemas, mas eu sabia que eles viriam até mim de qualquer jeito, eu quisesse ou não. Revezamo-nos na guarda dos trenós a noite toda, temendo que alguém pudesse tentar tomar nossa carga, já que não tínhamos onde guardá-la. Foi uma noite longa, as sombras pareciam se mexer de modos impossíveis, um lobo uivava confiante na escuridão longínqua, nuvens de vapor subiam espiralando dos bueiros, enquanto Thompson roncava baixo em seu sono agitado. Horas depois o sol forçou alguns raios através da camada cinza que cobria os céus e a manhã chegou ainda mais fria que a noite, mas o ambiente não deixou der ser estranho. As pessoas logo começaram a andar pelas ruas, às centenas, comprando e vendendo, e um alvoroço de vozes e sons dominou todo o lugar. Mas ainda assim era algo estranho, algo novo. Guardas andavam disfarçados, vestidos como pessoas comuns, mas era possível ver os cacetetes saindo por debaixo do casacos, e a qualquer sinal de problemas eles os usavam com violência desmedida, para que servisse de lição aos demais, evitando novos conflitos.

Começamos a vender, logo confirmamos que nossos itens eram realmente valiosos, e assim acabaríamos mesmo ricos. Mas também tivemos problemas. Como vendíamos morteiros dois guardas ficavam constantemente ao lado de nossos trenós, para garantir que não fossemos usá-los, e aqueles que comprassem algum, só teriam a mercadoria ao saírem. Algumas pessoas, mais desconfiadas, perguntavam a origem de tanto armamento, e como nos recusávamos a responder, a fim de evitar problemas com simpatizantes dos Piratas, que com certeza deviam comercializar por ali também, começamos a receber olhares desconfiados. Mesmo assim vendemos todos os morteiros antes do final da tarde, e quando os guardas já estavam mandando todos recolherem as mercadorias, um homem se aproximou de nós e nos fez uma proposta:

-Eu compro toda a bebida que vocês tem aí. Compro os cigarros também - disse o homem, que não parecia ter mais que 40 anos. Tinha um olhar sério, porém amigável, cabelos curtos e bem arrumados, voz grossa e rosto duro. - Darei uma festa essa noite. Sei que são forasteiros, mas se trouxerem essas revistas aí, acho que podem conseguir se enturmar por aqui - o homem começou a se afastar, andando de costas, e então completou. - Vejo vocês mais tarde?

-Claro, claro! - balbuciou Thompson, fazendo um sinal de até logo com o braço. Depois olhou para mim e continuou. - Você viu as roupas que ele usava?

-Roupas de padre. Sim, eu vi. - E eu estava tão espantado quanto ele. - E você, viu a estrela de Sherife?

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